domingo, 21 de agosto de 2011

Licença poética





OLHOS

Aquela menina tem uns olhos
Acho que foi o diabo que misturou
as cores de tanto brilho
Por mais que eu tente
de frente de ladona sombra
na luz
Não consigo encontrar
uma cor pra batizar o calor daquele olhar

Pedra que solta faiscaraio fino de luar
tudo que eu quero é ser visto
naquele fundo de mar
Mas aqueles olhos não querem
descobrir o meu olhar

Já me joguei na sua frente
Já me vesti de palhaço
Já fiz cara de bandido
Já gastei meu repertório
De inocencia e santidade
Aqueles olhos não querem
descobrir o meu olhar

Agora é demais
já tomei minha decisão
Chega de sofrimento
Chega de humilhação
Nunca mais vou implorar
um pingo de atenção
daqueles 
queles
 eles 
daqueles olhos tão lindos
que estão olhando pra mim!

Autor não identificado

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A maratonista e a locomotiva

Eu corri tanto tanto tanto que cheguei a tempo de pegar na tua mão bem forte antes do trem partir. Enquanto eu segurava sua mão, a menção que você fez era mesmo de ficar, mas o apito tocou, e te lembrou que o que você queria era outra coisa...

Eu corri tanto a tempo de ver suas bochechas rosadas na janela, encantadas com as montanhas azuis...

Eu corri, corri, corri

Então corri atrás do trem. Mas me responda você, amigo meu, como podem duas perninhas, curtinhas iguais as minhas, ganhar do motor a vapor da locomotiva?

Você foi e eu fiquei naquela estação...

domingo, 14 de agosto de 2011

Round1: Fight!

Há relações que só permeiam na pancada. A coisa só começa a ficar boa quando o sangue rola a ladeira...

De paz em paz. De guerra em guerra vão escrevendo sua história.

sábado, 13 de agosto de 2011

Sobre a arte de receber elogios

Quem gosta de cozinhar sabe que não há nada mais gostoso do que cozinhar pra alguéns.
Mentira. Melhor que cozinhar para alguéns, é a reação positiva destes ao provar sua obra de arte.

Muito bem, ontem brinquei de cozinhar para os amigos e o resultado foi intenso.
Entre margaritas, estelitas e heinekens nasceu um Chilli com carne e uma mousse de chocolate.... Divinos

Depois de tantos elogios, alguns fervorosos e apaixonantes, me senti na obrigação de dividir as receitas. Comida boa é comida dividida, difundida, feita com amor e com receita compartilhada.
As vovós, guardadeiras dos secretos seculares da cozinha que me perdoem, mas cozinhar é como qualquer conhecimento: só presta quando é compartilhado.

Assim, vamos ao cardápio da noite passada ( e estendido para a de hoje)

Chilli com carne




Ingredientes


1/2 kg de feijão carioca
700gr de carne moída
1 cebola grande picada
1 dente de alho picado
1 pimentão médio picado delicadamente
1 caixa de extrato de tomate
Páprica picante
molho de pimenta malagueta
pimenta do reino
sal


Preparo


Coloque o feijão pra cozinhar na pressão. Particularmente, gosto do chilli numa consistência mais pastosa, então deixo o feijão cozinhar até ficar ultra mega power macio.


Enquanto ele o feijão cozinha, refogue a cebola e o pimentão, acrescente a carne, tomando cuidado para ela ficar bem soltinha. adicione o sal, a páprica o molho de pimenta e a pimenta do reino. Aqui vai de gosto, aos que se aventuram na picância extrema, pode bastante pimenta! 
Acrescente o extrato de tomate e deixe borbulhar. 
Quando o feijão estiver no ponto, junte ele o o caldo do cozimento a carne. Tá pronto


Na hora de ir a mesa, jogue por cima uma porção generosa de queijo mussarela ralado grosseiramente. Acompanha torradinhas, pão pita, e agora a Pulmann vende aquele Rap10 que é a tortilha de farinha de trigo. Doritos com e sem tempero também vale.


Rendimento: pra 6 pessoas sem miséria!

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A Mousse de Chocolate


Ingredientes:


6 gemas
6 claras
4 colheres de açúcar (experimente substituir o refinado pelo mascavo)
2 barras de 130gr de chocolate meio amargo
2 barras de 130gr de chocolate ao leite
2 caixinhas de creme de leite


Modo de preparo


Bata na batedeira as claras até ficarem bem firmes, o clássico ponto "virou a tigela, não caiu, tá bom". reserve
Bata na batedeira as gemas e o açúcar até virar um creme encorpado. Se o açúcar for o refinado, o creme ficar quase branco, se for o mascavo, ficará num tom "café com leite".reserve
Em uma panela aqueça o creme de leite e desligue o fogo quando ele começar a atingir a fervura, só então acrescente as quatro barras de chocolate. O calor do creme de leite derreterá o chocolate naturalmente.
Junte este creme ao de gemas e açúcar, misture até obter um creme uniforme (isso tem que ser feito na mão, sem batedeira). 
Depois, introduza as claras delicadamente para que elas não dissolvam. É o areado das claras que deixa o mousse com aquela consistência furadinha liiiinda.
Manda pra geladeira por umas duas horas e tá pronto.


Rendimento: 6 pessoas sem nenhuma miséria!


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De fato o ponto alto da aventura gastronômica desse fim de semana foi essa sobremesa.
Não tinhamos batedeira, então botei todo mundo para bater clara na mão, foi ultra divertido.
Hoje um amigo se derramou em elogios e disse que estava "chocado", pois havia muito tempo que não comia uma mousse de chocolate tão gostosa.
Ele lembrou dos tempos de infância, eu fiquei com o ego de cozinheira amadora inflado que só!

Testem, experimentem, chame os amigos e divirtam-se!

A novidade veio à praia

E me fez fazer coisas que eu normalmente não faço
E me fez ver coisas que eu normalmente não vejo
E me fez me comportar sem comportamento algum
E tirou de mim o pudor
E me deu descaramento

A novidade veio e se instaurou na sala de estar, e lá está!

E se esparramou no tapete
E ligou música alta
E bagunçou as almofadas

A novidade diz agora que fica, e não tem vol.ta!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sobre eu, você e o que não foi...

Estranhamente sei, sinto, penso, acredito que parte disso ficou retido nas retinas daqueles olhos parte mistério, parte desejo, parte vontade.

Estranhamente sei que algo de tuas entranhas, talvez baço, talvez figado, talvez glândulas ainda estão naquela boca que te fez mais homem, mais humano, mais ereto.

Estranhamente sei que não foi finito, mas suspenso. E tal qual um balão de gás suspenso, uma hora haverá de cair...

Impossível lutar contra o inevitável

Sobre o futuro e Boa Viagem


Planejo um dia lindo, ao lado do Astro Rei, com cadeira e água de coco em Boa Viagem..

Nice trip
Buen viaje
Bon voyage
Bon viaggio

Com direito a óculos de sol.

Ósculos e Amplexos...

Sobre hoje

Ampla

Repleta

Completa


Há vezes em que pra ser encher os bolsos é necessário esvazia-los sem o menor pudor ou apego.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Para um amor em Veneza

E quando foi possível perceber o silêncio, foi possível ouvi-la colocando os sapatos na porta. O compasso desordenado de suas batidas cardíacas denunciava sua volta.

Para um amor na Califórnia

E depois de tudo, decidiu que não ia mais amar...
ao mar.

Se quiere, se mata


Pero si a la hora del té
nada pasa,
sólo te irás lejos de casa
por haber traído un habitante más
a ingresar a esta podrida ciudad
donde lo que no se quiere se mata.

Mudança de Planos

Meu coração fez as malas, decidiu que iria mudar.
Saiu do peito e agora, maroto que só, bate na garganta.

Diálogo com Alice



Então, para matar o Jaguadarte, Alice se lembrou que todos os dias antes de se levantar acreditava em 7 coisas impossíveis. Logo, para executar aquela façanha, precisaria também acreditar em 7 coisas impossíveis.

Mais tarde, na mesa do chá, enquanto o chapeleiro fazia seu passo maluco e a lebre insistia em estar atrasada, confidenciei a Alice que antes de me decidir em fazer algo, desisto disso pelo menos 7 vezes...

Então, só então, vou lá e faço.

Ensaio sobre o entendimento


Eu posso não entender, mas tento compreender... 
Como se a compreensão fosse um lubrificante natural para passar pelos corredores estreitos aos quais o fluxo da vida nos sujeita.


Eu não entendo, mas procuro aceitar o tombo, o medo, a morte, o sangue, o sorriso, a conquista, o amor... como se tudo fosse uma coisa só, junto e misturado como num balaio de frutas...


Viver não é a arte do entendimento, é a arte da compreensão!

Para um amor em Mumbai

É pra cuidar da alma, mesmo que ela esteja fora do corpo
É pra cuidar do corpo, mesmo que ele esteja fora de sí
É pra cuidar da mente, mesmo que ela negue a necessidade de zelo


É para olhar com bons olhos o mistério do planeta
É observar com atenção a obra do destino, da lei natural dos encontros
É pra ser de dentro pra fora e de fora pra dentro


A ordem hoje é transmutar para fortalecer!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

E como foi?

Rapaz, te digo que foi equivalente a ir de encontro a um caminhão de carga em alta velocidade!

Para um amor em Xangai

Medo, medo mesmo não é de dar errado.




Medo, medo mesmo é de não me permitir saber se daria certo.

Para um amor na Nova Zelândia

E então tomou proporções tão grandes que me escapou das mãos, criou vida, ganhou asas e voou.

Trocando em miúdos

Sou penas
 met/ade
do que era antes 
de me entender.

Run Ana run


É que a vontade que tenho agora é de correr até que estanque... Como se a cada passo largo e apressado que eu der eu deixe para trás os pedaços ocos do corpo sem alma.

Correr pra onde? Correr a esmo...

E ainda que não haja mais tempo, eu vos digo

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


(As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.)

A peleja

A sensação que tenho é a de que minha alma sairá de mim por cada micro poro, em casa gota de suor, pela boca quando eu abro.

É guerra! Treme o corpo, sua a pele, enjoa o estômago. Por onde haverá de sair esta alma?

Alma minha, que a mim já não pertence... foi-se a paz e o juízo...

Em Recife não há relógios para saber a hora




A onda ainda quebra na praia,
Espumas se misturam com o vento.
No dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi
pensando nós dois.

Eu lembro a concha em seu ouvido,
Trazendo o barulho do mar na areia.
No dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho olhando o sol morrer
Por entre as ruínas de santa cruz lembrando nós dois

Os edifícios abandonados,
As estradas sem ninguém,
Óleo queimado, as vigas na areia,
A lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos,
Por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas

Pois no dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém,
O último homem no dia em que o sol morreu

(O último por do sol - Lenine)

Diálogo entre entranhas

E se durante o assunto o corpo não expulsar nada além de palavras, já será um diálogo bem sucedido!

O que (não) resta

É como se eu estivesse sendo aberta calmamente por um bisturi afiado, sem aviso prévio, sem anestesia.

Sinto-me como se minhas carnes estivessem expostas.

Como se todos os meus orgãos internos estivessem pendurados numa corda a venda.

Meu coração? Não há. Rolou ladeira abaixo e foi atropelado por um trem no final da decida...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Nem

Nem minhas facetas, nem meu alter ego, nem as múltiplas personas que me habitam... nem elas, nem nada... Nem Ana, nem Letícia, nem nada...

Nem canto algum, nem quarto algum, nem cidade alguma...

Sou eu e só, observando uma vitrine.

Não quero mais!

Inspiração para lembrar e para esquecer...


É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles